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Suor e inserção no mercado internacional

Em mostra individual no centro Cultural Correios, Lourival Cuquinha volta ao Recife explorando as origens de sua “arte financeira”

O pernambucano Lourival Cuquinha tornou-se um nome na arte contemporânea internacional usando dinheiro como matéria-prima em suas obras mais recentes. Explorando o que passou a chamar de “arte financeira”, Cuquinha tem recriado bandeiras de diversos países utilizando unidades monetárias que dialogam com a economia dos mesmos.

Em sua terceira mostra individual, Cuquinha volta ao Recife, cidade onde passou a maior parte de sua vida, para contar as origens dessa abordagem. Topografia Suada de Londres: Jack Pound Financial Art Project é o título da mostra patrocinada pelo Centro Cultural Correios, com curadoria e acompanhamento crítico de Moacir dos Anjos e produção de Clarice Hoffmann.

Nesta exposição, o artista revisita a experiência de ter morado em Londres entre 2007 e 2009, como acompanhante da sua mulher, que fazia pós-graduação naquele país. Da tensão de viver pela primeira vez fora de um circuito que o reconhecia como artista e da pressão cotidiana para se manter em uma das cidades mais caras do mundo, nasceu Jack Pound, sua primeira obra de arte financeira. Com 505 libras ganhas como motorista de rickshaw, trabalho típico de imigrantes em Londres, mais 495 libras de investidores que compraram ações do projeto, Cuquinha costurou uma bandeira inglesa feita com mil libras em notas reais. A peça foi leiloada dois anos depois por 17 vezes o seu valor original, durante a Frieze Art Fair por um leiloeiro da Christie’s, e chamou a atenção do mundo.

“Esta exposição é o produto de uma convivência alienígena com a cidade de Londres e o registro de uma gradativa adaptação a esse lugar. No Recife, exibirei pela primeira vez todas as peças que produzi nesse contexto”, adianta Cuquinha, que organizou a produção em três ambientes. “É uma instalação tríptica com três espaços complementares”, explica.

Sala a sala

O primeiro ambiente da Topografia Suada de Londres chama-se Jack Pound Financial Art Project e conta com dois elementos: um corredor de asfalto vermelho de 1,85 m x 19 m (em Londres, esse material indicava a zona em frente ao Buckingham Palace onde o artista não podia ganhar dinheiro trabalhando como rickshaw), e o próprio Jack Pound, a bandeira da Inglaterra feita com mil libras.

O segundo espaço da mostra abriga vários refugos e trabalhos paralelos ao Jack Pound. “São trabalhos feitos no meio do caminho e que dialogam com a bandeira. Por exemplo, uma parede de fotografias de acionistas com suas ações.” Há também peças inéditas como National Heritage e Capital: Destruição e Construção.
O terceiro ambiente é a peça O Trabalho Gira em Torno, montada especialmente para a exposição do Centro Cultural Correios. Em um ambiente escuro, uma escultura feita com três rickshaws interligados pode ser pedalada pelo público. “A escultura reage de maneira diferente a cada um que a pedala. Nasceu diretamente do meu tempo de trabalho como rickshaw”, diz Cuquinha.


A exposição acontece de 2/8 a 23/9 no Centro Cultural Correios, e a montagem já está recebendo toda a atenção do artista. “Mostrar esses  trabalho no Recife é relevante porque aqui é possivelmente o lugar onde eu menos me sinto alienígena no mundo. Agora trago o que fiz no lugar em que me senti alienígena por mais tempo. É como deslocar o sentimento de alienação para o lugar ao qual pertenço”, conclui.

SERVIÇO 
Topografia Suada de Londres: Jack Pound Financial Art Project
Centro Cultural Correios
Av. Marquês de Olinda, 262, Recife-PE
De 02/08 a 23/9
  
Assessoria de Imprensa 
Tatiana Diniz